Sintoma da dependência do comércio marítimo, os povos da antiguidade empenharam-se na construção de portos favoráveis à manobra e abrigo dos grandes navios e respectivas cargas, além de desenvolverem outras estruturas de apoio permanente à navegação. Com a intensificação das rotas comerciais marítimas, as tradicionais técnicas de orientação tornaram-se insuficientes. À orientação celeste, por sinais de fogo e fumo, pelo avistamento de aves (documentada, nomeadamente, no poema Utnapishtim de Gilgamesh, e no dilúvio bíblico) e pelas naturais referências físicas da costa, o engenho humano acrescentou os “ciclopes de luz” - os faróis.
O farol de Pharos, guardião da ilha que lhe deu nome, à entrada do porto de Alexandria (Egipto), não terá sido, certamente, o primeiro a ser erigido pelos povos da antiguidade, embora não sejam conhecidas seguras referências a outros faróis mais antigos. Reconhecido como uma das 7 maravilhas da Antiguidade, por Antípatro de Sídon (200 a.C.), a importância do farol de Pharos foi tal que este tipo de estruturas acaba por adoptar o seu nome: Pharos - farol.
O farol de Pharos foi desenhado e construído entre 290 a.C. e 270 a.C., pelo arquitecto e engenheiro grego Sóstrato de Cnido, por ordem de Petolomeu Soter. Com um aparelho pétreo de granito, foi edificado à entrada de um dos mais importantes portos do Mediterrâneo, impondo-se no horizonte com uma altura superior a 100 metros, o que permitia ser visível a 50 km de distância. Os seus três andares eram coroados por uma estátua, provavelmente de Poseidon. Durante a noite, uma chama no topo tornava-o facilmente identificável, provavelmente intensificada pelo recurso a espelhos, que durante o dia reflectiriam a luz do sol.
A sua monumentalidade resistiu até ao século XIV, testemunhando 22 históricos terramotos. Entre 1303 e 1323, uma sequência de terramotos e deslizamentos de terra destruíram boa parte de Alexandria, apagando o brilho da “Cidade dos Mil Palácios”, bem como do seu lendário farol. Em 1994 foram identificados, finalmente, os primeiros vestígios do farol de Pharos, na sequência de trabalhos de arqueologia subaquática.
Em Portugal, mais precisamente em Alcabideche/Cascais, admite-se a existência de uma destas antigas estruturas de sinalética náutica. Trata-se do sítio arqueológico do Espigão das Ruivas (Idade do Ferro/período Romano), inicialmente interpretado como um lugar sagrado de culto ao sol e à lua, por ter registado vestígios de uma antiga estrutura pétrea, conservando uma gravura representando um touro. Contudo, tendo em conta a proximidade a um lugar com o topónimo de “Porto Touro”, a reduzida dimensão da sua planta circular e os restos de carvões aí verificados, não será de excluir a hipótese de se tratar de um antigo farol de apoio à navegação de entrada no referido porto de abrigo (Ana Margarida Arruda, 1999/2000). O sítio registou a ocorrência de cerâmica diversa, nomeadamente sigillata, uma argola de bronze e um anel, além de uma sepultura violada de tipo "cista".
Ricardo Soares (2008), Tartessos, um povo do mar. Génese da navegação, técnicas de construção e embarcações mediterrâneas pré-romanas.
Nota - as imagens do farol de Pharos não são da minha autoria. Infelizmente ainda não tive oportunidade de fotografar este farol!!!